sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Exercício é mais eficaz que terapia de choque contra bursite





Um estudo publicado no "British Medical Journal" revela que exercícios supervisionados são mais efetivos do que terapia por ondas de choque para aliviar dores crônicas no ombro, a quarta maior causa de queixa relacionada a dor musculoesquelética no mundo.

O trabalho, o primeiro a comparar os dois tipos de tratamento, foi feito na Noruega e envolveu 104 homens e mulheres de 18 a 70 anos que apresentavam dor havia pelo menos três meses devido à síndrome do impacto no ombro -popularmente conhecida como bursite. O problema ocorre quando dois ossos da região se impactam, comprimindo a musculatura situada entre eles.

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Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebeu ondas de choque (uma sessão semanal durante quatro a seis semanas) e outro realizou exercícios supervisionados (duas sessões de 45 minutos cada uma por até 12 semanas). Todos foram monitorados na sexta, na 12ª e na 18ª semanas.

Ao fim de 18 semanas, 64% das pessoas que fizeram os exercícios apresentaram redução na dor e nos índices de incapacidade. No grupo das ondas de choque, 36% tiveram melhora nesses indicadores. Os resultados mostram ainda que mais pacientes do grupo de exercícios voltaram ao trabalho ao fim do estudo, enquanto mais pacientes do grupo das ondas de choque receberam tratamento adicional após 12 semanas -o que sugere menor satisfação com a terapia.

De acordo com Osvandré Lech, vice-presidente da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e especialista em ombro, esse não é o primeiro estudo que revela que a terapia de ondas de choque tem resultado inferior ao de outros métodos, mas é importante porque não envolve conflito de interesses e tem um rigor científico grande.

"A técnica não é barata e tem resultados limitados em comparação com outras mais simples. A pesquisa é um alerta para os profissionais usarem as ondas de choque de maneira comedida e cientificamente comprovada", afirma.

Na opinião do médico, há um grande interesse econômico por trás da indicação das ondas de choque porque o custo das máquinas utilizadas no tratamento é elevado -superior a R$ 54 mil. "O uso foi ampliado devido ao interesse comercial, mas esse tratamento não é isento de complicações. Muitas vezes o paciente sente dor intensa nas aplicações e pode haver, mais raramente, queimaduras superficiais. Sai caro para um país como o nosso."

O ortopedista Sérgio Luiz Checchia, do Hospital Sírio-Libanês, confirma que a terapia é feita em larga escala, incluindo em situações em que não há justificativa. "Ela pode ser usada quando há calcificação, mas não em inúmeras outras lesões, porque não surte efeito. E o trabalho mostra isso", diz. Para ele, o estudo tem potencial para mudar a prática médica.

Nos EUA, não se faz ondas de choque no ombro, segundo o vice-presidente da SBOT. "No Brasil, o uso não está devidamente regulamentado e a terapia é usada para uma quantidade maior de patologias, como todas as do ombro", afirma.

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Casos específicos

O ortopedista Gerson Bauer, membro da Sociedade Brasileira de Terapia de Ondas de Choque, defende o tratamento e afirma que ele só é indicado para casos de tendinite calcária. "Para uma tendinite simples, o exercício costuma ter bom resultado. Pode-se até usar as ondas de choque, mas desde que o paciente não responda a outros tratamentos e que se saiba que não é a indicação de escolha."

Os exercícios realizados durante o estudo norueguês também são recomendados no Brasil e incluem alongamentos para recuperar a amplitude de movimentos e um trabalho de fortalecimento muscular. Ao menos no início, é importante que o paciente seja orientado por um profissional.

Fonte:

RACHEL BOTELHO
da Folha de S.Paulo

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Governo suspende proposta de distribuir droga para AVC



O Ministério da Saúde interrompeu uma iniciativa que iria implementar a distribuição, pelo SUS, do único medicamento que trata o AVC (acidente vascular cerebral), a principal causa de morte no país.

Aprovado em 2001, o remédio é um tipo de trombolítico (droga que dissolve coágulos) cujo princípio ativo é a alteplase. Produzido pela empresa farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim, ele é hoje a única alternativa para tratar o AVC isquêmico, que representa 80% dos casos no mundo.

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De cada quatro pacientes tratados com o remédio até três horas após o derrame, um sobrevive. Sua maior vantagem está em reduzir as sequelas: quando administrado em até três horas após o derrame, aumenta em até três vezes a chance de recuperação completa, sem problemas como incapacidade de fala e locomoção e distúrbios de memória.

Muito usado em hospitais privados, o remédio só é distribuído em alguns centros públicos, como os hospitais universitários, que se dispõem a pagar por ele, já que não o recebem do SUS. Em alguns casos, as secretarias municipais e estaduais bancam sua distribuição. Na cidade de São Paulo, nove hospitais públicos o oferecem, por meio desse tipo de parceria.

O Ministério da Saúde afirma que o Projeto Nacional de Atendimento ao AVC, que visa melhorar a atenção à doença, continua em andamento e inclui ações como a agilização do acesso desses pacientes às unidades de urgência, mas disse que "no momento, não se discute a inclusão de novos medicamentos". Respondeu, ainda, que, numa reunião na semana passada, "reforçou o convite às sociedades médicas (...) para que participem do processo de implantação dessa política".

Médicos que participaram dessa reunião dizem que ficaram desapontados após o Secretário de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame, dizer que distribuir a alteplase era "inviável". "Já tinham me dito que estavam mudando as prioridades. Mas como pode a doença que mais mata no país não ser prioridade?", questiona a neurologista Sheila Martins, presidente da ONG Rede Brasil AVC.

Ela foi contratada pelo ministério para ser consultora do projeto, cargo que manteve até março. Diz que foi chamada para implantar a distribuição do trombolítico pelo SUS. "Eu é que propus ampliar o projeto para incluir outras ações, como o treinamento dos hospitais que receberiam o remédio."

O projeto vinha sendo desenvolvido em parceria com entidades como as sociedades brasileira e iberoamericana de doenças cerebrovasculares, a Academia Brasileira de Neurologia e a Associação Médica Brasileira. Desde o ano passado, o sistema de saúde de diversos municípios vinha sendo organizado para receber os remédios e melhorar o atendimento.

Foi desenvolvido um projeto piloto em Porto Alegre, que mostrou que, após a distribuição do trombolítico, o índice de pacientes de AVC que saíram do hospital sem sequelas subiu de 32% para 54%.

Elza Tosta, presidente da Academia Brasileira de Neurologia, que estava na reunião da semana passada no ministério, diz que a notícia de que o trombolítico não seria mais distribuído foi uma surpresa. "Quem conhece o AVC sabe que é um remédio importantíssimo."

Ela afirma, porém, que sentiu que as portas continuam abertas a outras contribuições ao projeto. "Percebemos que a distribuição do trombolítico não está nos planos do governo, mas que o restante poderia ser feito. Estamos abertos a colaborar", diz a neurologista.

Ayrton Massaro, presidente da Sociedade Iberoamericana de Doenças Cerebrovasculares, diz que agora não sabe como orientar os médicos. "Não adianta o paciente chegar à emergência cedo se não podemos dar o remédio. Nos hospitais privados ele já é usado. Como as sociedades médicas vão orientar os profissionais e os pacientes se temos que trabalhar com dois sistemas opostos? Não dá para fazer duas medicinas", afirma.

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Hospitais de referência

O projeto envolvia a escolha de alguns hospitais de referência em cada região com estrutura para receber o trombolítico. "Não podemos simplesmente largar o remédio nos hospitais. Se o médico não tiver cuidado, pode ocorrer sangramento no cérebro", diz Sheila Martins.

Os demais hospitais vinham sendo treinados para implantar outras medidas simples que, segundo ela, não são seguidas, como não deixar o paciente ter febre ou glicemia muito alta.

Também vinha sendo criado, em alguns pronto-atendimentos, um serviço apenas para o atendimento de doenças circulatórias, como infarto e AVC. O projeto envolvia, ainda, sistemas de telemedicina para a comunicação de locais mais distantes com especialistas treinados e ações de prevenção e educação da população.

Custo

Segundo Sheila Martins, o custo anual de distribuir os trombolíticos seria de R$ 5 milhões nos primeiros anos -quando parte da rede pública seria beneficiada.

Cloer Vescia Alves, que foi coordenador-geral de Urgência e Emergência do ministério até março deste ano, diz que vários estudos estavam avaliando o custo-benefício da distribuição do remédio. "Eles apontam que é positivo. O custo do remédio não se compara ao custo social e econômico das sequelas que ficam em quem não o utiliza. É uma legião de pessoas que passa a depender da previdência."

Martins diz que vai continuar o projeto, tentando parcerias com as secretarias estaduais e municipais de saúde. "Mas não é o ideal. Tem locais que não vão conseguir comprar o remédio por conta própria. É o tipo de medicamento que tem que vir do ministério, o SUS tem que pagar."

Fonte: Flávia Mantovani - Folha de São Paulo

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sete refrigerantes têm substância cancerígena, revela pesquisa

Precisamos tomar cuidado com estas informações e procurar investigar mais. Por via das dúvidas, e se nem outro artigo no jornal, revista ou TV levar este assunto importante adiante, vamos nos precaver.


Em uma pesquisa com 24 refrigerantes, a Pro Teste --Associação Brasileira de Defesa do Consumidor-- verificou que 7 têm benzeno, substância potencialmente cancerígena. O benzeno surge da reação do ácido benzoico com a vitamina C. Como não há regra para a quantidade do composto em refrigerantes, usou-se o limite para água potável: 5 microgramas por litro.

Os casos mais preocupantes foram o da Sukita Zero, que tinha 20 microgramas, e o da Fanta Light, com 7,5 microgramas. Os outros cinco produtos estavam abaixo desse limite. São eles: Dolly Guaraná, Dolly Guaraná Diet, Fanta Laranja, Sprite Zero e Sukita.

Fernanda Ribeiro, técnica da Pro Teste, diz que é difícil estudar a relação direta entre o benzeno e o câncer em humanos, mas que já se sabe que a substância tem alto potencial carcinogênico e que, se consumida regularmente, pode favorecer tumores. "Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), não há limite seguro para ingestão dessa substância", diz.

A química Arline Abel Arcuri, pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) e integrante da Comissão Nacional Permanente do Benzeno, diz que o composto vem sendo relacionado especialmente a leucemias e, mais recentemente, também ao linfoma.

O fato de entrar em contato com o benzeno não significa necessariamente que a pessoa vá ter câncer --há organismos mais e menos suscetíveis. "Mas não somos um tubo de ensaio para saber se resistimos ou não, e não há limites seguros de tolerância. O ideal, então, é não consumir", diz Arcuri.

O benzeno está presente no ambiente, decorrente principalmente da fumaça do cigarro e da queima de combustível. Na indústria, é matéria-prima de produtos como detergente, borracha sintética e náilon.

Nesse caso, não contamina o consumidor por se transformar em outros compostos. A principal preocupação é proteger o trabalhador da indústria.

O efeito do benzeno é lento, mas, quanto maior o tempo de exposição e a quantidade do composto, maior a probabilidade de desenvolver o tumor.

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Adoçantes e corantes

A pesquisa da Pro Teste encontrou, ainda, adoçantes na versão tradicional do Grapette, não informados no rótulo. O problema é maior no caso de crianças, que devem ingerir menos adoçantes.



Foram reprovados outros seis produtos [Fanta Laranja, Fanta Laranja Light, Grapette, Grapette Diet, Sukita e Sukita Zero] que tinham os corantes amarelo crepúsculo --que, segundo estudos, favorece a hiperatividade infantil-- e amarelo tartrazina --com alto potencial alergênico. "O amarelo crepúsculo já foi proibido na Europa. E muitas crianças têm alergia a alguns alimentos e, depois, descobre-se que o problema é o amarelo tartrazina", diz Ribeiro.

Os corantes são aprovados no Brasil, mas, para a Pro Teste, as empresas deveriam substituí-los por outros que não sejam problemáticos, assim como no caso do ácido benzoico. "É um problema fácil de ser resolvido", diz Ribeiro.

Outro lado

A Coca-Cola, responsável pela Fanta, afirmou, em nota, que cumpre a lei e que os corantes de bebidas são descritos no rótulo. Afirma, ainda, que o benzeno está presente em alimentos e bebidas em níveis muito baixos.

A AmBev, que fabrica a Sukita, informou que trabalha "sob os mais rígidos padrões de qualidade e em total atendimento à legislação brasileira".

Cláudio Rodrigues, gerente-geral da Refrigerantes Pakera, que fabrica o Grapette, diz que a bebida tradicional pode ter sido contaminada por adoçantes porque as duas versões são feitas na mesma máquina. "Os tanques são lavados, mas pode ter ficado resíduo de adoçante no lote testado."


Fonte: Folha de São Paulo - Flávia Mantovani