Um estudo publicado no "British Medical Journal" revela que exercícios supervisionados são mais efetivos do que terapia por ondas de choque para aliviar dores crônicas no ombro, a quarta maior causa de queixa relacionada a dor musculoesquelética no mundo.
O trabalho, o primeiro a comparar os dois tipos de tratamento, foi feito na Noruega e envolveu 104 homens e mulheres de 18 a 70 anos que apresentavam dor havia pelo menos três meses devido à síndrome do impacto no ombro -popularmente conhecida como bursite. O problema ocorre quando dois ossos da região se impactam, comprimindo a musculatura situada entre eles.
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||
Os participantes foram divididos em dois grupos: um recebeu ondas de choque (uma sessão semanal durante quatro a seis semanas) e outro realizou exercícios supervisionados (duas sessões de 45 minutos cada uma por até 12 semanas). Todos foram monitorados na sexta, na 12ª e na 18ª semanas.
Ao fim de 18 semanas, 64% das pessoas que fizeram os exercícios apresentaram redução na dor e nos índices de incapacidade. No grupo das ondas de choque, 36% tiveram melhora nesses indicadores. Os resultados mostram ainda que mais pacientes do grupo de exercícios voltaram ao trabalho ao fim do estudo, enquanto mais pacientes do grupo das ondas de choque receberam tratamento adicional após 12 semanas -o que sugere menor satisfação com a terapia.
De acordo com Osvandré Lech, vice-presidente da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e especialista em ombro, esse não é o primeiro estudo que revela que a terapia de ondas de choque tem resultado inferior ao de outros métodos, mas é importante porque não envolve conflito de interesses e tem um rigor científico grande.
"A técnica não é barata e tem resultados limitados em comparação com outras mais simples. A pesquisa é um alerta para os profissionais usarem as ondas de choque de maneira comedida e cientificamente comprovada", afirma.
Na opinião do médico, há um grande interesse econômico por trás da indicação das ondas de choque porque o custo das máquinas utilizadas no tratamento é elevado -superior a R$ 54 mil. "O uso foi ampliado devido ao interesse comercial, mas esse tratamento não é isento de complicações. Muitas vezes o paciente sente dor intensa nas aplicações e pode haver, mais raramente, queimaduras superficiais. Sai caro para um país como o nosso."
O ortopedista Sérgio Luiz Checchia, do Hospital Sírio-Libanês, confirma que a terapia é feita em larga escala, incluindo em situações em que não há justificativa. "Ela pode ser usada quando há calcificação, mas não em inúmeras outras lesões, porque não surte efeito. E o trabalho mostra isso", diz. Para ele, o estudo tem potencial para mudar a prática médica.
Nos EUA, não se faz ondas de choque no ombro, segundo o vice-presidente da SBOT. "No Brasil, o uso não está devidamente regulamentado e a terapia é usada para uma quantidade maior de patologias, como todas as do ombro", afirma.
Editoria de Arte/Folha Imagem | ||
Casos específicos
O ortopedista Gerson Bauer, membro da Sociedade Brasileira de Terapia de Ondas de Choque, defende o tratamento e afirma que ele só é indicado para casos de tendinite calcária. "Para uma tendinite simples, o exercício costuma ter bom resultado. Pode-se até usar as ondas de choque, mas desde que o paciente não responda a outros tratamentos e que se saiba que não é a indicação de escolha."
Os exercícios realizados durante o estudo norueguês também são recomendados no Brasil e incluem alongamentos para recuperar a amplitude de movimentos e um trabalho de fortalecimento muscular. Ao menos no início, é importante que o paciente seja orientado por um profissional.
Fonte:
RACHEL BOTELHO
da Folha de S.Paulo