Tristeza, desânimo, depressão: quando as coisas começam a tornar-se sombrias ou fica mais difícil levar a vida, é preciso procurar ajuda. Normalmente, a melhor estratégia é combinar diferentes medidas -por exemplo, uso de remédios ou substâncias com princípios ativos, medidas de autocuidado (como alimentação adequada e prática de exercícios) e apoio psicoterápico. Em caso de depressão intensa, que, diferentemente da tristeza comum, é doença, o uso de medicamentos sintéticos pode ser indicado.
Mas, para depressão leve ou moderada, há opções de antidepressivos naturais que podem ter efeito. Abaixo estão relacionados dez desses itens, que podem levantar o ânimo ou ajudar no tratamento da depressão. Oito deles têm algum grau de evidência -como critério, foram utilizadas meta-análises (revisões de vários estudos) da organização Cochrane, rede global dedicada à revisão de pesquisas na área de saúde. Dois são controversos e precisam de mais estudos sobre sua eficácia e segurança.
Exercícios
O exercício estimula a secreção de endorfinas, que causam sensação de bem-estar. "Além disso, melhora a circulação e a oxigenação do cérebro. E tem efeitos indiretos em sintomas ligados à depressão, como a qualidade do sono", diz Frederico Navas Demetrio, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em geral, acredita-se que os exercícios de maior intensidade sejam mais eficazes. Mas, na revisão de 25 estudos feita pela organização Cochrane, que confirmou que a atividade física melhora os sintomas de depressão, os pesquisadores afirmaram que não há evidência sobre qual tipo de exercício é mais eficaz. O que costuma funcionar melhor é praticar uma atividade física que dê prazer.
5 HTP (hitroxi-triptofano)
O triptofano é um aminoácido essencial, encontrado especialmente em alimentos proteicos, como carnes e laticínios. Não é produzido pelo corpo e precisa ser adquirido via alimentação. Esse aminoácido leva à produção de serotonina, neurotransmissor relacionado ao prazer e ao bem-estar.
Por isso, a suplementação de 5 HTP pode ser usada em alguns casos de depressão e tristeza. "É mais indicado para quem tem a deficiência do nutriente, causada, por exemplo, por dietas vegetarianas pobres em proteínas. Uma alimentação equilibrada supre as necessidades de triptofano", diz Vânia Assaly, endocrinologista e nutróloga, membro da International Hormone Society.
Para ela, o suplemento age especialmente na melhora do sono, na redução da voracidade noturna e em transtornos leves de humor. Os suplementos dietéticos de 5 HTP são produzidos principalmente a partir de uma planta africana, a Griffonia simplicifolia.
Em uma meta-análise, pesquisadores da Cochrane encontraram evidências de que o 5 HTP é melhor do que placebo para aliviar sintomas da depressão. Notaram, porém, que a maioria dos estudos não atingiu todos os critérios de qualidade e que mais pesquisas devem ser feitas para verificar possíveis efeitos adversos.
Segundo Frederico Demetrio, do HC, os primeiros estudos com 5 HTP foram interrompidos porque seu uso provocou dores musculares, mas elas foram atribuídas a impurezas no produto utilizado. "Em tese, o 5 HTP de boa qualidade, purificado, pode funcionar."
Porém, o 5 HTP pode interagir com antidepressivos sintéticos, levando à concentração excessiva de serotonina. É contraindicado, ainda, para pacientes com tumores malignos ou doenças cardiovasculares.
Meditação
Estudos mostram que a meditação produz mudanças no cérebro, como a redução ou o aumento da atividade de certas regiões. "A hipótese é que reduza hormônios como o cortisol, diminuindo a ansiedade, e promova liberação de endorfinas, ligadas à sensação de prazer", diz José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp.
Em 15 pesquisas analisadas pela organização Cochrane, pessoas que meditaram apresentaram melhora da depressão em comparação com as que não fizeram nenhum tratamento. O estudo concluiu que a técnica tem potencial para ser o tratamento inicial do problema, especialmente para pessoas jovens, com o primeiro episódio de depressão ou com quadro considerado bem leve.
Para Leite, os maiores cuidados devem ser tomados com pessoas com tendências autodestrutivas, como pensamentos suicidas. "São casos em que é preciso muito acompanhamento, e a meditação não pode ser o tratamento principal."
Ele diz que, em geral, a meditação é uma técnica eficaz e de baixo custo para diminuir os sintomas e reduzir as reincidências do distúrbio. Para ter efeito, ele recomenda que seja praticada, no mínimo, quatro vezes por semana. "No início, a pessoa pode praticar por cinco a oito minutos. Em uma semana, ela já consegue meditar por dez minutos e vai aumentando gradativamente até chegar a 30 minutos, o que é suficiente para obter os efeitos", diz Leite.
Fototerapia
A exposição à fonte de luz artificial intensa é um tratamento comprovado para a depressão sazonal -que ocorre no inverno, quando o período de luz solar diminui. É frequente em países mais distantes do Equador, em que os dias se tornam muito curtos nos meses frios. No Brasil, é menos comum.
Na fototerapia, uma lâmpada fluorescente de pelo menos 2,5 mil lux (unidade de medida de luz) é colocada perto dos olhos da pessoa, sem que essa precise olhar diretamente para a lâmpada. As sessões duram cerca de 30 minutos por dia.
Segundo Rubens Pitliuk, neuropsiquiatra do hospital Albert Einstein, a fototerapia também pode ajudar em outros casos de depressão, se os sintomas pioram em dias cinzentos.
Uma revisão de 20 estudos concluiu que traz benefícios discretos, mas promissores, também para casos de depressão não sazonal, quando usada com outros tratamentos.
É possível adquirir aparelhos de fototerapia para uso em casa, mas deve haver orientação médica. Também é importante usar aparelho que não emita raios ultravioleta.
Suplementos de vitaminas B12 e B9 (ácido fólico)
As vitaminas B12 e B9 são essenciais para a fabricação de diversos neurotransmissores e atuam como modulares dos sistemas neurológico e hormonal. Em pessoas deprimidas, pode ser observada uma diminuição dos níveis desses nutrientes presentes no sangue.
A suplementação dessas vitaminas pode aliviar sintomas de depressão e potencializar efeitos de medicamentos antidepressivos. Costuma ser indicada para pacientes com sintomas de deficiência nutricional e alcoólatras (que normalmente apresentam deficiência de nutrientes e, em especial, falta de vitamina B 12).
Uma análise de estudos realizada pela Cochrane, envolvendo um total de 151 pessoas, indicou que o uso de vitamina B9 (ácido fólico) em conjunto com outros tratamentos diminui o grau de depressão dos pacientes. No entanto, os estudos não mostram se o efeito ocorre tanto em pessoas com deficiência do nutriente quanto nas com níveis normais de vitamina B9.
Em caso de desânimo ou tristeza não patológica sem causas aparentes, pode ser investigada a falta dessas vitaminas por meio de exame de sangue. Nessa circunstância, a suplementação pode ser suficiente.
Nos casos de depressão, é necessário corrigir a deficiência, se constatada, mas a suplementação é considerada um adjuvante do tratamento, e não o foco principal.
Em pacientes que não estão respondendo aos tratamentos, é recomendado checar os níveis dessas vitaminas encontrados no sangue e a suplementação pode auxiliar na obtenção de resultados.
Aparentemente, não há efeitos adversos e interações medicamentosas com o uso de suplementos de vitaminas B9 e B12. O excesso desses nutrientes no organismo é eliminado naturalmente pela urina.
Erva-de-são-joão
O extrato da erva-de-são-joão (Hypericum perforatum L) é um dos chamados antidepressivos naturais mais estudados. Porém, seu mecanismo de ação ainda não está totalmente esclarecido. "Aparentemente, seus princípios ativos têm ação semelhante à dos [medicamentos sintéticos] inibidores da recaptação de serotonina", diz Frederico Demetrio, do HC de São Paulo.
A serotonina é um neurotransmissor que modula o humor e provoca bem-estar. Baixos níveis da substância estão relacionados aos quadros de depressão. Os inibidores de recaptação aumentam a disponibilidade da serotonina no sistema nervoso central.
Uma meta-análise feita pela organização Cochrane concluiu que o extrato de erva-de-são-joão tem efeito superior ao do placebo e similar ao dos medicamentos sintéticos no tratamento de depressão leve a moderada. Foram analisados 29 estudos, que incluíam, no total, 5.489 pacientes.
Os autores ressaltam que, como há grande variedade de produtos à base de erva-de-são-joão no mercado, os resultados só são aplicáveis para as preparações testadas nos trabalhos incluídos na meta-análise. "É preciso usar extrato de qualidade com as concentrações adequadas dos princípios ativos da planta", diz Demetrio.
Segundo o psiquiatra, o uso e a dosagem devem ser indicados e supervisionados por médicos, e os efeitos começam a ser percebidos após duas semanas, aproximadamente.
O mais importante é saber que a erva-de-são-joão interage com outros medicamentos e não pode ser usada com alguns deles. "O uso associado a outros antidepressivos, por exemplo, pode levar à síndrome serotoninérgica [concentração excessiva de serotonina], que causa de mal-estar a alucinações", afirma Demetrio.
O mesmo pode ocorrer com alguns remédios usados para emagrecimento.
O extrato também diminui a absorção de remédios anticoagulantes e de algumas drogas quimioterápicas, prejudicando o tratamento.
Entre os efeitos adversos, a erva-de-são-joão pode aumentar a fotossensibilidade -causando manchas e eczemas na pele com a exposição à luz- e causar secura na boca e constipação intestinal.
Acupuntura
A acupuntura busca reequilibrar a chamada "energia vital" por meio da estimulação de pontos específicos do corpo. A depressão, dentro dessa perspectiva, é entendida como um desequilíbrio no fluxo energético entre os órgãos. Restaurar esse fluxo e a saúde geral do indivíduo é uma estratégia para lidar com estados de desânimo.
Martius Luz, do setor de medicina chinesa e acupuntura da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que, além da restauração de energia, acredita-se que a acupuntura gere respostas no sistema nervoso central que estimulam a produção de serotonina.
Embora não existam estudos suficientes para comprovar essa teoria, há pesquisas populacionais indicando que as pessoas propensas a usar técnicas de medicina complementar obtêm resultados no tratamento da depressão com acupuntura.
Uma revisão de sete estudos envolvendo 517 pessoas avaliou que não há evidência de que os medicamentos sintéticos sejam melhores do que a acupuntura para diminuir os sintomas de depressão. Por outro lado, os pesquisadores dizem não ter dados para concluir sobre a eficácia da acupuntura por si só.
Para Luz, a acupuntura pode ser usada isoladamente ou com outros tratamentos. O suporte emocional, como a psicoterapia, é importante para o sucesso do tratamento.
Os efeitos começam a surgir após cerca de cinco aplicações, mas podem demorar mais, dependendo da saúde geral e do grau de depressão do paciente. "Para alguns, são necessárias 15 aplicações", afirma Luz.
GH e melatonina são tratamentos controversos
A utilização de hormônio do crescimento (GH) e de melatonina para quadros de depressão pode surtir algum efeito em casos específicos, mas não há evidências suficientes sobre os efeitos positivos e a segurança de uso dessas substâncias.
"O hormônio do crescimento só deve ser utilizado em pessoas que têm deficiência comprovada da substância. Nesse caso, pode ter efeito benéfico nos sintomas da depressão, mas só deve ser usado com indicação e controle médico, porque há risco de vários efeitos indesejáveis", afirma a endocrinologista Vânia Assaly.
De acordo com Frederico Demetrio, do Hospital das Clínicas de São Paulo, o déficit do hormônio de crescimento é difícil de ser medido, porque a secreção da substância varia muito durante o dia. "O hormônio do crescimento tem efeitos colaterais perigosos e é usado indevidamente, como anabolizante, por exemplo. De fato, ele causa hipertrofia muscular, e isso inclui o músculo cardíaco, o que pode levar a problemas no coração e ao infarto", diz ele.
O GH também pode causar diabetes, tem interações perigosas com vários medicamentos, como os contra o câncer, e traz riscos renais.
A melatonina é uma substância produzida naturalmente pelo corpo que regula o ciclo sono-vigília. "A sincronização do sono pode, teoricamente, ajudar no tratamento, já que problemas para dormir são sintomas importantes da depressão", afirma Demetrio.
Os efeitos especificamente antidepressivos da melatonina também estão sendo estudados, e um medicamento para depressão que atua nos receptores de melatonina está em fase de pesquisa.
Assaly lembra que a venda da melatonina é proibida no Brasil: a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deu parecer desfavorável à análise de eficácia e segurança do produto. No entanto, em alguns países, como os EUA, a melatonina é um suplemento de venda livre.
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